segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Dobrar o ouro, ou ver dobrado unindo os olhos num ponto.
Tentar refazer a mesma bolha, Transmigrar de globos.
Ouro de bobo: seduz, mas só dura enquanto reluz, etericamente, e a luz da mente não entende que quanto mais reduz o foco mais aumenta a rigidez  das bolhas, e tudo vira guerras das estrelas da morte.
Moedas da sorte, duas, nenhuma delas é sua, mas você as cuida enquanto não dissolve.
Pastilhas efervescentes, é o que somos, falacorpoemente.
Dois presentes, uma serpente, fluindo pelo meio de tudo, tornando cada ser e coisa ponte móvel, ligações evanescentes, seiva potente pra que corpomentefala seja menos bolha e mais mandala.
A alma pesada teme a espada, tema do próximo canto, dai-me, Têmis, engenhoencanto!
Balança, dar a Deus o que é do Sargent Pepper, pratos de Maat vistos de cima, e como diz o ditado rapper,

segue a rima!

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Trama de Olhares
Rafael Medeiros
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sábado, 11 de novembro de 2017

[Raios, rios, veias, vias e seivas. Algo sobre o naipe de Paus.]

Esqueça por um momento tudo que você leu, por exemplo, sobre o naipe de paus e sua relação abstrata com o elemento fogo e com o "yod fundamental". Pegue um graveto seco, bote fogo nele, veja-o arder, bote outros gravetos, veja o fogo se alastrar, escute seu crepitar, seu cheiro, deixe os olhos lacrimejarem e arderem com a fumaça, veja-os se apagarem lentamente, e contemple suas cinzas. Aqui você já terá um manancial de analogias e metáforas para ajudar consulentes que se sentem reduzidos a cinzas, e precisam desanuviar os olhos e enxergar aquele pontinho de brasa que pode desencadear um novo incêndio, novo combustível. No Tarot de Marselha algumas cartas de paus possuem um pontinho vermelho ao centro, em meio a bastões resfriados, e existe um Valete que carrega um bastão novo para a fogueira extinta.
Depois disso contemple galhos, ramificações, veja mapas de cidades, suas vias, e olhe também veias, e seivas solidificadas, tudo isso são raios lentos, que crescem em slow motion, e podem estar em diferentes graus de complexificação, dinamismo, integração com o entorno, e fertilidade. Galhos podem estar secos, ruas demandam conexão, veias demandam seiva. Com isso em mente, abra as cartas de Paus lado a lado na mesa, ou na grama, veja a sua complexidase aumentar, seus pontinhos vermelhos aparecerem e sumirem, imagine que seiva corre dentro deles, ou que carros tentam achar caminhos entre suas tramas. As vezes pessoas correm pra lá e pra cá em busca de ninhos, passarinhos para cantar junto, ou para migrar. Observe o crescimento de alguma planta. Bonsais são ideais. Controlar o crescimento também é um tema dos bastões, e se derem frutos, melhor, e se forem redondos, temos ouros. Todas as moedas são sementes dentro do Ás de Dinheiros, que pode ser uma fruta, ou um prato. Mas estes ficam pra outro papo.

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Rafael Medeiros
Trama de Olhares
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quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Jogos Cartomânticos: Anagramas.

Tenho gastado alguns neurônios tentando criar jogos cartomânticos com o Tarot de Marselha, jogos que favoreçam a leitura baseada em ritmos, rimas e padrões entre os seus objetos, roupas, chapéus, torres, vasos, moedas, etc. Acabei criando dois jogos. o primeiro tem uma história que merece ser contada, portanto, pela falta de tempo, deixo para o final de semana, afinal, isso que chamo de Trama de Olhares é uma entidade do Mundo Imaginário cujo méduim sou apenas eu. O segundo jogo brotou como um insight durante uma sessão de meditação. Sua mecânica é bem simples, e pode ser jogado sozinho ou acompanhado.
É assim, você pega um conjunto de anagramas com poucas letras. No exemplo de jogo usarei "Muro/Rumo", mas pode-se usar outros, como "Vela/Leva/Vale/Lave", ou "Porta/Trapo/Tropa/Parto".

 >Escreva os anagramas em papéis e os divida em grupos, assim:

>E se quiser, escreva as letras em papeizinhos, para não se perder nas leituras, assim:

>Coloque os grupos de anagramas com as faces para baixo, para que o consulente não saiba em qual monte está cada grupo.

>Peça para que ela ou ele escolha o monte, e em seguida escolha 1 palavra. Sugiro que se use um máximo de 3 anagramas.

>Mostre a palavra ao consulente, para que ela pesque algum conteúdo da sua mente, evite sugerir temas.

>Misture as cartas. 

>Monte a primeira palavra na mesa, e tire uma carta para cada letra.

>Leia as cartas, e logo após peça para  o consulente sortear outra palavra do monte.

>Troque as letras de lugar, junto com as cartas correspondentes. Esta é a nova sequência. Aqui pode ser lido um conteúdo "fisgado" da mente do consulente, ou pode ser lido em relação com a leitura anterior, por exemplo, "como um muro se torna um rumo?", importante ressaltar que neste jogo cartomântico o consulente não precisa trazer "grandes questões", nem nada "profundo", inclusive as próprias palavras podem ser lidas, e tomadas como o próprio conteúdo.

>O jogo tem esta mecânica principal, mas assim como existem várias modalidades de canastra, ou buraco, deste esqueleto podem brotar outras variantes. Por exemplo, você pode experimentar ler o desenrolar de um processo no anagrama "serpente/presente", com as cartas em espiral, e tentar ver se no ventre do processo existe peçonha, risco de repentino bote oculto nas moitas do destino, aliás, "repente" também é anagrama de "serpente".

A seguir, dou um exemplo rápido de jogo.

A consulente escolheu o montinho que contém "rumo/muro", elegendo "muro" como primeira palavra. Ela olha a palavra, e diz estar encontrando muita dificuldade  para direcionar a sua energia criativa, sente que deveria atrelar as suas finanças às suas estrelas, sua criatividade talentos. Ela não sabe no que focar. As cartas ficaram assim:


Temos a consulente diante de todas as suas potencialidades, e nas suas mãos, a certeza de que aquilo pode frutificar em independência financeira, deste bastão o ouro começa a brotar em dois pontos, mas ele parece estar invertido. Se ela finca o bastão na terra do jeito certo, brota o Ás de Copas, todas as suas potencialidades na verdade formam uma linda catedral, a separação e contradição são ilusórias, no fim a Temperance ressalta que os vasos são comunicantes, nada deve ser excluído, o rumo, ou o caminho, é a integração. Mas e o muro que impede a integração?


A catedral salta para o começo da sequência, tornando-se ansiedade, queima de etapas, "meter os pés pelas mãos", é preciso sentir o ritmo das coisas, pois esta integração não virá assim da noite para o dia, a consulente cata muito bem, e tem contatos de casas noturnas, tem composições próprias, poderia começar por aí, respeitando os limites das casas, e mantendo-se aberta para o surgimento de outras oportunidades que contemplem algo mais amplo, experimental e integrativo. Aliás, acabo de dar uma pesquisada rápida no ditado acima citado, e olha o que me apareceu, "José sabia que não sabe levantar muro, não amarrou direito, caiu...ele meteu os pés pelas mãos." Tem "muro" no exemplo!
A segunda mensagem fala sobre o obstáculo da excessiva mensuração, um tipo de concentração que atrapalha o fluir das energias, a flexibilidade da mente. É preciso estar alerta e aberta, para perceber as conexões e o brilho as vezes fugaz das grandes oportunidades, brilho semelhante ao que vemos sobre águas agitadas numa tarde de sol.

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Espero que tenham gostado do jogo. Qualquer pessoa que queira utilizar este conteúdo está plenamente autorizada, se puder citar o meu trabalho, mió ainda! Se acrescentar algo, adoraria receber os feedbacks. Quem quiser jogar comigo este e outros jogos, inclusive a cartomancia mas clássica, me procura no chat do face, ou pelo e-mail tramadeolhares2016@gmail.com.

Abraços a tod@s, 
Salud!

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Trama de Olhares
Rafael Medeiros
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terça-feira, 12 de setembro de 2017

Um Salve aos Equilibristas


Um abraço para você,
 trabalhador brasileiro,
a.k.a. equilibrista,
 que às vezes
 dorme em pé no busão,
mas não para
na pista.
não olha feio
pros gambé
se hoje tiver revista,
muita fé no vaivém
& se hoje for de trem
abraço vc também,
inclusive o maquinista.
a gente chupa cana,
assovia, e as mana
tem que aturar dia após dia
o machismo dos sacana.
pra vocês aquele abraço
& que os laços que amarram
as mãos daqueles
a quem tudo falta
não alcancem suas almas,
e nem cale a sua flauta.

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Rafa Medeiros,
p(r)o(l)eta.
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Ps.: gambé foi um empréstimo que tomei dos irmãos sudestinos e quer dizer polícia.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

A Estrela dos Outros Alegra Minhas Galáxias ou Texto que No Final Gira Enquanto Fala de Rodas ou Shine On You Crazy Daimon!

Ás de Copas como a Morada do Verbo Prometeico. Montagem Minha.

Ontem uma pessoa puxou um papo comigo no chat, para me falar sobre o meu trabalho e tirar algumas dúvidas. Lá pro fim da prosa, ele me disse que eu sou muito vanguardista, que ***** tem um trabalho melhor, mais "tradicional", e me passou um link para um vídeo de *******. Bueno, em primeiro lugar, foi uma grata surpresa ver o trabalho de ******! De fato, era um vídeo super bem feito, muito claro e coerente, onde o colega inclusive alerta contra os significados fixos das cartas. Bom, segundamente, gente, cuidado com este termo, "tradicional" usado para denotar "oficial, correto, mais verdadeiro", pq via de regra nisso aí só cabe uma coisa, e exclui todo o resto. A tradição é um rio caudaloso de várias vertentes, sempre em movimento. Geralmente, quem usa o tarot como oráculo, só por isto já está inserido no movimento de uma tradição. Vejo o tarólogo-cartomante como um tradutor e um trazedor, alguns, como Pound, ainda brincariam com tradittore, alegando que traduzir é em certa medida praticar algumas "traições". Augusto de Campos nomearia este trazer-traindo: intra-dução. Entenda-se por trair, aqui, negar-se ao movimento, à dança, em nome de uma pretensa fidelidade, letra morta. Cartomantes são parentes de Hermes, condutores por excelência. No Arcano VII está o nosso retrato. Então, tanto eu como os demais colegas cartomantes, trazemos/traduzimos algo, somos trazedores.

 Terceiramente, cuidado com isso de ficar instigando a rivalidade entre as pessoas, isto não é legal.

 Bom, quartamente, pessoal, a ideia de que os arcanos numerados são desdobramentos dos Ases, que são as Raízes de energias elementais/anímicas e forças da natureza foi veiculada e popularizada pelos autores ocultistas do séc. XIX pra cá, sobretudo numa vertente da Kabbalah, a Kabbalah Hermética, os Ases são Kether do mundo mais elevado, Atziluth, e energizam todas as outras árvores da vida, são o Primeiro Motor, ou Primeiros Redemoinhos. Eu acho isso uma fonte riquíssima de metáforas e insights, isso não SURGE com os ocultistas do séc. XIX, estes apenas aproximam mais estreitamente tradições metafísicas com o Tarot, e isso com certeza permeia as minhas leituras. Vejam bem que eu não estou negando que o colega seja tradicional, estou afirmando que eu, ele e todos nós tarólogos e cartomantes temos os nossos trabalhos permeados pela tarologia veiculada no século XIX, pq amados, TODA tarologia oracular de hoje toma forma aí, ou pelo menos é o que apontam as pesquisas sérias. Sabem quantos livros medievais sobre divinação com as cartas nós temos? Nenhum. Isso não quer dizer que a tradição do Tarot começa no século XIX, nem que a atividade da cartomancia começa ali. Inclusive, quando ressalto que por séculos a fio o Tarot foi (e é) utilizado num jogo que lhe deu o seu nome, além de ser objeto de jogos poéticos, como o Tarrocchi appropriati, não é com o objetivo de defender que a cartomancia é uma bobagem que surgiu nos revivals da magia do século XIX, como fazem alguns autores cientificistas. O objetivo é nos conectar a estas práticas, e tornar-nos conscientes de que o que fazemos é mais um dos jogos possíveis de serem feitos com as cartas. Isto de maneira alguma esvazia a cartomancia, ou a desencanta. As pessoas que faziam e jogavam os baralhos, também tinham sua dimensão espiritual, e com certeza o impregnaram com isso. Em alguns jogos de trunfos, os Ases são cartas imbatíveis, é como se as criaturas (demais cartas), não fossem capazes de vencer seus criadores, os Ases. Na vasta maioria dos jogos os Ases começam as sequências, a letra que o representa é o “A”, que por sua vez também inicia os alfabetos. Para vibrar um “A”, temos que abrir bem a boca, e emitir o som mais aberto de todas as vogais, e para pronunciar o “Z”, fazemos um som que em alguns idiomas vibra, em outros silva, se a pronunciamos de maneira vibratória e demorada, nossa cabeça trepida, é a existência a trepidação do Verbo Original e monocórdio? A palavra “Ás” e “Ace” possui os dois fonemas que abrem e fecham os alfabetos de parte dos idiomas. Em algumas metafísicas orientais, o universo abre com “Ah!” e materializa-se com “Hum!”, em alguns templos japoneses podemos ver esta representação nas figuras de Agyo (boca aberta, Ah!) e Ungyo (boca fechada, Hum!).


Agyō 阿形
Ungyō 吽形
Isto nos remete ao Alfa e Ômega, o formato gráfico do Ômega nos lembra o Tav (ת, Th), última letra do Alefbet, o alfabeto hebraico, que representa a existência consumada. Na Alquimia, da qual eram íntimos os Imagineiros que traçaram os Tarots medievais, este nadatudo é representado pela palavra Azoth, onde vemos o A e o Th mediados por uma Roda (o), ser/não-ser num baile perpétuo (Dançarina d’O Mundo?), ritmo, sístole-diástole, fluxo-refluxo, se você contemplar isso junto com o poema nascemorre  de Haroldo de Campos, as cartas O Louco, Roda da Fortuna e O Mundo, mais o ensaio Signos em Rotação de Octavio Paz, e um som instrumental do seu agrado (sobretudo Jazz, Clássica, Prog ou Post-Rock) lhe garanto que muitos insights virão, e continuarão brotando como as águas perpétuas do Ás de Copas de Pamela Smith, outras vezes os insights explodirão na sua cara como no Ás de Copas de Harris-Crowley, outras vezes você se sentirá veículo do Verbo, como o Ás de Copas do Marselha. Perceberam o que eu estou fazendo? Estou jogando com as comparações e aproximações. Aliás, um dos momentos máximos da linda aula do competentíssimo colega acima citado, é quando ele diz que o “Tarot não é uma ciência exata, é uma atividade comparativa.” Ah quem me dera ter este poder de síntese!

 Cada um cria suas manhas, suas comparações, cada um tem seu jogo (como na Capoeira, essa luta circular). Mais acima eu falei no Ás de Copas do Marselha como análogo à ideia de veículo do Verbo. Alguns podem ter achado esta comparação aleatória, mas não é. É que no meu trato com os tarôs mais antigos, eu gosto de usar como tempero o contexto histórico da concepção da carta. No caso do Ás de copas, esta bela catedral/cálice é um Ostensório, um instrumento da liturgia católica, utilizado em procissões para transportar a hóstia consagrada, nada menos que o próprio Corpo de Cristo, presente no Ostensório pelo mistério da transubstanciação. Este é o meu jogo
.

Ostensório Medieval


 Eu acho curioso que algumas pessoas vejam no termo “jogo” algo que acarreta demérito ao Oráculo. Para boa parte das escolas, o Universo é um jogo, e boa parte das nossas aflições está em termos criados barreiras entre nós e o jogo, em não nos vermos como parte dos Ritmos Universais. Bueno, antes que isto aqui se estenda ao infinito, encerro com o “quintamente”: eu amo ler os trabalhos de colegas tarólog@s e cartomantes, poucas coisas fazem vibrar minhas notas quanto sentir a vibração das notas dos outros, as dissonâncias e consonâncias geradas por esta atividade incendeiam a minha imaginação e deixam a minha criatividade sempre em movimento, afinal sou aquariano e gosto de vento. Por falar em vento, no próximo texto divagarei sobre o Ar, aí depois solto os devaneios Cabralinos.


Salud!
Bons Jogos!

Rafael Medeiros

ps.: Este texto não expõe ninguém, fiquem despreocupados, a pessoa que me procurou no chat, após as minhas respostas, simplesmente me bloqueou!


Coelhos Brancos & Trilhas de Farelos

Universo enquanto ritmo para a Kabbalah >>>> Tzimtzum

Universo enquanto ritmo para o Hinduísmo >>>>Lila

Universo enquanto ritmo para o Taoísmo >>>> Yin Yang

Livro "A Vida Como Jogo", de Alan Watts >>>>La Vida Como Juego

Sobre o Tarocchi Appropriati >>>> http://trionfi.com/0/p/28/

Sobre o Jogo do Tarot >>>> http://trionfi.com/0/p/

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Blues do Exílio






tanto grudou os olhos
na tela do celular
que ficou do formato dela,
e entre passos lentos, atrapalhados,
perde o pulso
míngua o grito,
perde a sanha, as manha
de andar no Cosmos,
seu próprio lar,
cê fica mais finito,
a cada manhã
esquece que Sol
é sua irmã,
e não escuta,
por mais que Ela grite:
- Levanta esse olhar! O Céu é o deslimite!

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Tarô em Transe



Falemos de Cabala. Calma, não tomarei preciosos minutos do seu tempo falando sobre tabelas que você já conhece, encontráveis em dez mil livros e páginas da internet. Falo aqui de Cabala como cavalo alucinógeno que nos carrega ao longo das imagens e letras. Um dos sentidos de “Kabbalah”, em hebraico, é “receber”, então vamos pegar apenas isto da etimologia séria, e tragamos aqui para o nosso mundo fluido de delírios filológicos e etimologias imaginárias. Aqui Cabala é “cavalo” e “receber”, e também ser cavalgado, ser veículo de mensagens sagradas.
Cabala, assim com “c”, é um termo usado por Fulcanelli para um uso especial da linguagem, o uso de similaridades fonéticas e outras técnicas, para expandir a riqueza semântica das palavras e símbolos. Isto está profundamente relacionado com a Língua Verde, ou Linguagem dos Pássaros, dos alquimistas. Alguns, ao longo do tempo, chamaram isso de “Cabala Fonética”. Eu gosto muito deste termo, embora não goste de me limitar aos sons.
Sendo honesto com você, isso de combinar a forma das palavras, suas homofonias e rimas com etimologias reais e imaginárias visando expandir o campo semântico das palavras quer dizer uma coisa: cair em transe. Não um transe convencional, daqueles que geram dissociação total, verdade, mas ainda assim um estado peculiar de percepção, que vai sendo afiado com o tempo de uso, como uma espada. Em outro texto falaremos de espadas. Este estado de percepção nos permite “receber” mensagens, e enxergar coisas que não estavam ali antes. Isso pode nos levar a vermos o que não estava ali antes nas nossas vidas também, nos nossos problemas e questões. Trata-se de magia simpatética old school, e um tipo interessante de vidência, e como não se trata de um sistema, você pode aplicar a qualquer coisa, inclusive cartas de tarô. Não estou aqui falando apenas com profissionais da cartomancia, tampouco dando “dicas” que só servirão para os que leem cartas profissionalmente. Estou falando com toda e qualquer pessoa que deseje extrair mensagens de cartas de tarô. Também não estou colocando-me como inventor, estou aqui no máximo como transmissor, e nem sou dos melhores. Não sou um Senhor das Chaves Arcanas, estou mais para um amigo que no meio de uma partida de carteado diz, “ei! Sabem aqueles trocadilhos do tio José? Dá para ler cartas com eles!” Não se trata de inventar a roda, se trata de curtir a vertigem da rotação dos signos, e perceber as inusitadas formas que surgem quando as coisas se embaralham. Trata-se de dizer que ventilador é um aparelho mágico que sopra o nosso coração quando ele está ferido, com dor. Como aplicar a Cabala Fonética ao tarô? Bom, eu ainda estou descobrindo isso, mas o primeiro passo é ampliar a percepção para além da fonética, a abrir-se para todo tipo de rimas e ritmos que possam ser conectados. Por exemplo, você está diante de uma questão sobre o fim doloroso de um relacionamento, e a Roda saiu. A roda gira, o que remete a movimento, ciclos, e também tem associação com um instrumento de tortura, o que nos leva a dor, o formato da roda nos lembra do ventilador. A dor do consulente precisa ser ventilada. Se depois da Roda vem a Estrela, temos um moinho (moer, re-moer). Quem alimenta esta Roda? Este giro? Esta dor? Podemos responder estas perguntas com a terceira carta.
O baralho que mais dialoga comigo quando aplico este modo de leitura é o Tarot de Marselha. Eu realmente não sei ao certo se alguém criou estas imagens para funcionarem assim, digo, imagem por imagem. Existem migalhas no caminho para você encontrar respostas, Compagnonage, caleidoscópios, imagiers medievais, catedrais góticas, vitrais góticos, alquimia, Fulcanelli etc., o que percebi até agora olhando para as cartas, é que há um jeito de fazer imagens que simplesmente faz com que as conexões surjam. As simetrias, olhares, posturas, descontinuidades, incompletudes. Se você chegou até aqui com esperança de que este texto ficaria mais sério, acadêmico, ou “profundo”, sinto te decepcionar, tratam-se de divagações, e as divagações continuarão em outro texto. Por hora, se você quiser entrar em transe com o seu baralho, sugiro algumas coisas:

1.       1. Leia O Castelo dos Destinos Cruzados, de Ítalo Calvino, e logo depois de terminada a leitura, coloque 3 cartas em sequência, melhor que a primeira tenha uma figura humana, feche a sequência com um Arcano Maior, e escreva um conto à maneira dos contos do livro. Eu fiz isso na primeira vez que li este livro, até hoje não sei o que me deu aquele dia, mas passei a noite em claro escrevendo como um louco com as cartas diante de mim. Os contos não precisam ser obras primas, trata-se de um exercício.

2.      2.  Faça estes exercícios bolados por Enrique Enriquez, http://www.tarotforum.net/showthread.php?t=102599

3.      3.  Pratique este pequeno método para afiar os olhos, http://tarot-historico.com.br/?p=871

Isto não irá te fazer abandonar tudo que você acumulou até aqui, nem entrará em choque com nada na sua prática oracular, pois não se trata de um sistema. A sua caminhada e aprendizados são únicos e preciosos. Isto aqui só irá deixar tudo mais divertido, e irá afiará os seus olhos reais e imaginários. E por falar em afiar, no próximo texto, farei algumas aproximações entre o tarô e a poética agudíssima de João Cabral de Melo Neto. Mas não se esqueçam, serão apenas devaneios...

Hasta luego!
Hasta fuego!

Hasta Juego!

rafael medeiros

sexta-feira, 4 de agosto de 2017


























Diabo sem laço,
sem rédeas,
 sem regras. sol solto no espaço,

 quem desfez a corda?
abre todos os olhos, acorda!

 - gente que faz acordo com ele, moço,
e concorda de adorar até o fim.

 há divisão entre você e mim?
Diadorim...

 disfarce de mago
ou face real
de quem cansou das cascas
 e assumiu os cascos?
 Klic! Pot! Klic! Pot! Klic! Pot!

 ah! sumiroslaços!


 alcança o que
quem perde as estribeiras?
a terceira beira?

 o que é que há além de nós?
 alma é tudo ou detalhe?
quanta alma nesta casca cabe?

 o Diabo é quem sabe!

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Poema: Rafael Medeiros
Imagem: Tarot Furtado, desenvolvido por João Acuio.
Luzes: Sol
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Nota: A onomatopeia "klic! pot!" foi empregada para reproduzir o som de cascos, e os estalos de cascas rompendo-se sucessivamente. Isto está em relação com o conceito cabalístico de "Kliphot", cuja tradução literal é "casca". Para ajudar no efeito poético-alucinógeno, sugiro que se pesquise sobre Kliphot, tanto para a Cabala tradicional quanto para a Hermética. Aqui vai um link que pode servir como start: http://cabalaportugal.blogspot.com.br/2010/03/terminologia-cabalistica-klipot.html

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Próximo ao auge do Inverno,
planto esta semente ardente
pelas paragens virtuais.
Cansado de ter os meus pequenos feitiços
devorados pelo facebook.
Espero que dure.

Dobrar o ouro, ou ver dobrado unindo os olhos num ponto. Tentar refazer a mesma bolha, Transmigrar de globos. Ouro de bobo: seduz, mas s...